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NÁUTICO

Massagista do Náutico é preso por assalto a ônibus e família aponta erro da polícia

Prisão foi realizada pela Polícia Civil, no Centro de Treinamento do clube, no mês passado

postado em 17/03/2021 16:30 / atualizado em 17/03/2021 20:05

<i>(Foto: Caio Falcão/CNC)</i>
No que era, até então, um dia comum de trabalho para Paulo Neto, que atua como massagista do Náutico, acabou se transformando em um pesadelo que já tentou ser encerrado duas vezes, mas sem êxito. No dia 24 do mês passado, enquanto trabalhava no Centro de Treinamento do Alvirrubro, no Brejo da Guabiraba, ele foi levado pela Polícia Civil do estado até o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna, o Cotel, onde se encontra até agora. O caso só ganhou atenção recentemente, depois de uma ampla divulgação nas redes sociais do funcionário de 27 anos. De acordo com a esposa de Paulo, Amanda Araújo, ele foi pego de surpresa pelos policiais, porque não havia recebido nenhuma intimação e estava celebrando o Natal junto a amigos e familiares quando o crime aconteceu num coletivo que passava pelo bairro da Ilha Joana Bezerra, em dezembro de 2018.

O assalto aconteceu há dois anos, no dia 25 de dezembro, por volta das 22h, em um ônibus da linha Xambá/Joana Bezerra, da empresa rodoviária Caxangá. Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, três homens anunciaram o assalto junto a um adolescente, portando arma de fogo e ameaçando passageiros e funcionários do ônibus. Celulares, bens materiais e dinheiro do motorista e do cobrador, assim como a renda do coletivo foram levados.

O mandado de prisão do caso, datado no ano seguinte ao ocorrido, foi cumprido. Mas até a condução ao presídio, Paulo sequer sabia da existência do acontecimento, segundo sua companheira.

“A prisão de Paulo se deu por conta de um mandado de prisão de um processo de 2019, do qual ele nunca tomou conhecimento. O processo diz respeito a um assalto de ônibus ocorrido no Natal de 2018, data em que meu esposo estava em casa, com a família, amigos e vizinhos. Temos fotos em redes sociais daquela época”, afirmou Amanda.

Ela também ressaltou que o endereço de Paulo estava anexado ao processo, mesmo sem ele ter recebido qualquer intimação da polícia.

“Ele foi preso no CT do Náutico, por policiais que cumpriram o mandado. Só então tomamos conhecimento da acusação. Ele nunca foi intimado para nada, embora no processo existisse o endereço dele”, revelou.

Ainda de acordo com a esposa, o “reconhecimento fotográfico” levou em conta uma foto antiga de Paulo, presente num de seus documentos de identificação. Ela confirmou ainda que teve acesso às imagens do ato no coletivo, e que não existem semelhanças físicas entre os autores e seu marido. “A acusação foi fundada num suposto reconhecimento fotográfico, feito através de uma imagem do RG dele, de quando era bem mais novo. O que mais espanta é que ele em nada se parece com o assaltante que aparece nas imagens. Ele estava trabalhando no momento em que foram pegar ele”, relembrou.

A Polícia Civil do estado, responsável pela prisão de Paulo, também se posicionou, afirmando que reuniu provas através de depoimentos e reconhecimento por parte de envolvidos no assalto e das vítimas do caso. 

O QUE FALA A POLÍCIA CIVIL

A reportagem do Esportes DP entrou em contato com a Polícia Civil, para ouvir a sua versão da história. E em nota, a instituição afirmou que a prisão foi em cumprimento de uma investigação “conduzida de forma imparcial e observando os critérios técnicos, utilizando diversos elementos probatórios”. Além disso, assegurou que a identificação do crime aconteceu também através de um reconhecimento por parte de envolvidos e das vítimas.

Confira, na íntegra, a nota enviada pela PCPE

A Polícia Civil de Pernambuco, por meio da Delegacia de Polícia Interestadual e Capturas - Polinter, deu cumprimento a mandado de prisão referente ao crime de roubo no último dia 24 de fevereiro em desfavor de um homem, de 27 anos, no Brejo da Guabiraba, no Recife. O homem foi encaminhado ao COTEL.

A PCPE esclarece que a prisão ocorreu como resultado de inquérito policial realizado pela 1ª Delegacia Seccional de Polícia – Santo Amaro, responsável pela investigação de roubos a coletivos na área do Terminal Integrado de Joana Bezerra e adjacências, local beneficiado com significativa redução de assaltos nessa modalidade. A investigação foi conduzida de forma imparcial e observando critérios técnicos, utilizando diversos elementos probatórios até a conclusão do procedimento que culminou com identificação da autoria do crime por meio de depoimentos, reconhecimento por parte de envolvidos e vítimas.

Após a conclusão, o Inquérito Policial foi remetido ao Ministério Público que se posicionou e encaminhou ao Poder Judiciário, incumbido de apreciar a legalidade do feito e reunião dos indícios necessários para formação do convencimento cabível, de acordo com ordenamento jurídico.”

A defesa de Paulo, inclusive, tentou reverter o quadro, anulando a prisão preventiva. Mas teve seu pedido negado pela juíza Socorro Britto Alves. Anteriormente, no dia 28 do mês passado, a sua representante jurídica também havia tentado a revisão do caso, interferindo junto a um Habeas Corpus. Mas teve a liminar negada pelo desembargador Reynaldo de Oliveira. 

Agora, o caso aguarda uma emissão através do Ministério Público para que o pedido de Habeas Corpus seja julgado na 1ª Câmara Criminal do TJPE, sob ordem do desembargador Evandro Magalhães Melo. Esse julgamento, no entanto, ainda não tem data prevista para acontecer.

O QUE FALA O PODER JUDICIÁRIO

De acordo com a nota da Polícia Civil, o caso andou e irá parar nas mãos do Poder Judiciário, para que analise e aprecie a legalidade de toda a situação. A reportagem também o ouviu, através de sua assessoria de imprensa.

Abaixo, confira nota enviada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco

Segundo a denúncia, no dia 25 de dezembro de 2018, por volta das 22h, no bairro da Ilha  Joana Bezerra, Recife – PE, no interior do ônibus da empresa Rodoviária Caxangá, linha Xambá/Joana Bezerra, os denunciados subtraíram para si ou para outrem, mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo, em concurso com o adolescente A.T.O.J, coisas alheias móveis pertencentes aos passageiros, funcionários da empresa e renda da empresa de ônibus. Ainda de acordo com a denúncia, “no dia e horário mencionados, os acusados, juntamente com o adolescente referido, determinaram que o motorista do citado coletivo abrisse as portas do ônibus, sob pena de ser desferidos disparos de arma de fogo. Ao adentrar pelas portas dos ônibus, os acusados subtraíram celulares e dinheiro do motorista e cobrador, além da renda do coletivo e os bens dos passageiros. Em seguida, os acusados tomaram rumo ignorado. Na delegacia de polícia, os aludidos denunciados foram reconhecidos pelas vítimas, ao passo que o adolescente admitiu a prática do ato infracional juntamente com os acusados Gabriel e Paulo Mariano”.
 
O Juízo da 1ª Vara Criminal da Capital, informa que a defesa do denunciado Paulo Mariano de Arruda Neto requereu o relaxamento da prisão e a revogação da prisão preventiva. No dia 11 de março de 2021, a juíza Socorro Britto Alves, no exercício cumulativo da 1º Vara Criminal da Capital, indeferiu (negou) os pedidos formulados pelos advogados, com respaldo no parecer do representante do Ministério Público (Promotor de Justiça), e manteve a prisão preventiva do aludido denunciado Paulo Mariano de Arruda Neto. No 1º grau, o processo encontra-se aguardando as citações de todos os denunciados e apresentação de respostas à acusação.
 
A defesa de Paulo Mariano de Arruda Neto interpôs um Habeas Corpus (HC), no plantão judiciário do dia 28 de fevereiro de 2021 e o desembargador plantonista Demócrito Reynaldo de Oliveira negou a liminar. Na sequência, a análise do HC foi distribuída para o desembargador Evandro Magalhães Melo, que emitiu um despacho solicitando mais informações ao Juízo da 1ª Vara Criminal da Capital. Depois, o HC deverá seguir para o Ministério Público emitir parecer. Por fim, o HC será julgado na 1ª Câmara Criminal do TJPE, sob a relatoria do desembargador Evandro Magalhães Melo”.

O QUE FALA A DEFESA DE PAULO

A advogada Virgínia Barreto é quem está à frente da defesa de Paulo nesta situação. E confiante na liberação através do Habeas Corpus para que o massagista consiga responder à Justiça em liberdade, ela mencionou uma confusão nos autos, a respeito da identificação do homem pelo adolescente que estava envolvido no assalto ao coletivo.

“O auto de reconhecimento se deu unicamente por foto do registro da SDS. Os registros de rede social foram juntados aos autos pela defesa após a prisão do mesmo. Muito embora o próprio adolescente participante do fato tenha declarado quem seria a pessoa de Mariano dando detalhes de quem ele seria , podendo o mesmo ser localizado, esses detalhes não foram observados. Ademais, nos causa espanto que a testemunha que estaria dentro do coletivo identifica o "Mariano" como sendo homem de cor negra sem tatuagem aparente e em contradição com as características por ele mesmo repassadas identifica pela imagem impressa em preto e branco do cadastro da SDS, Paulo Mariano, que não é negro e tem uma tatuagem desde aquela época aparente no antebraço. Ressaltamos ainda que embora conste nos autos ainda nas primeiras páginas a ficha da SDS com endereço de Paulo Mariano, ele não tenha sido nunca intimado para prestar esclarecimentos, tendo inclusive a denúncia seguido como sendo o mesmo de endereço desconhecido. A defesa entende que este não é o momento processual para declaração da inocência dele posto que requer a instrução processual, contudo nosso apelo é para que o mesmo tenha o direito de provar sua inocência em liberdade, ao lado de sua família e trabalhando como sempre o fez. Estamos confiantes que o Habeas Corpus será favorável a este pleito da defesa”, disse Virgínia. 
 
O QUE FALA O NÁUTICO

O clube, que até então não havia se posicionado sobre o que aconteceu no dia 24 de fevereiro em seu Centro de Treinamento, emitiu uma opinião através do seu vice-presidente jurídico, Bruno Becker.

Segundo Bruno, uma advogada foi contratada pela família e está cuidando do caso. E o que aconteceu com Paulo reforça a sequência de “prisões absurdas” que acontecem “sem fundamento”. Além disso, Becker, que confirmou ter tido acesso ao processo e ao inquérito, também relembrou como foi feito o reconhecimento.

“Estou ciente dessa questão. Na medida do possível, o clube tem dado apoio. Quem está à frente do caso é uma advogada, que foi contratada pela família. Pelo que eu li do inquérito e do processo, não digo só porque é funcionário do clube não, mas a prisão é um absurdo. Foi feita baseada num suposto reconhecimento de uma fotografia mostrada a alguém que tava dentro do ônibus. Baseou-se nisso, quando ao mesmo tempo e por outro lado, tem imagens do circuito interno do ônibus, que mostra claramente que a pessoa que cometeu o assalto não foi o funcionário do clube. É mais uma dessas prisões absurdas e sem fundamento nenhum”, disse Bruno. 

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