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Deputado federal Luciano Bivar discursa contra modelo SAF no Sport, quer mudar Lei Pelé no Congresso e revela plano de 'Cruzeiro Palestra'

Ex-presidente, que teve o nome vetado às eleições do Sport, teme 'Leão alvirrubro', e vê 'fome' de empresários de atletas para assumir clubes SAF

postado em 30/11/2022 18:52 / atualizado em 30/11/2022 19:04

<i>(Foto: Arquivo/DP)</i>
Apontada nos últimos anos como uma solução viável para os clubes em crise no futebol brasileiro, a Sociedade Anônima do Futebol ganhou força, Lei, e passou a ser adotada por clubes tradicionais, como Cruzeiro, Vasco e Botafogo, além de outras agremiações no país. Outros clubes também vêm estudando o tema e dando passos para aderir ao modelo de gestão empresarial, entre eles o Sport. Porém, tal movimento encontra opositores entre grupos políticos dos clubes, e na Ilha do Retiro não é diferente.

Esse, inclusive, foi o motivo que trouxe o ex-presidente Luciano Bivar de volta aos holofotes do debate político no Leão, onde conduziu o Executivo rubro-negro nos períodos de 1989-1990, 2005-2006 e 2013. No dia em que teve a candidatura ao biênio 2023/2024 vetada pela Comissão Eleitoral por exercer cargo de deputado federal, Bivar concedeu uma entrevista exclusiva à Rádio Clube de Pernambuco, onde se mostrou completamente avesso à SAF, o que chama de ‘venda do Sport’, mas foi bem mais além, e levantou a bandeira para o debate nacional, inclusive revelando um movimento de líderes do Cruzeiro.

“O Rodrigo Maia (à época, presidente do Congresso Nacional) me chamou logo no começo, quando tinha uma comissão especial para debater isso. Era dirigido pelo deputado federal do Rio de Janeiro, Pedro Paulo. O que é a SAF? A FIFA proibiu que qualquer pessoa física pudesse negociar jogador. Então, inventaram a figura da SAF para os empresários, já que ele não pode negociar. Eles podem comprar um clube, e em nome do clube eles negociam e são reconhecidos pela FIFA. Isso foi um avanço a mais dos empresários de jogadores de futebol”, iniciou Luciano Bivar.

“A SAF é para clubes que não têm origem, não têm tradição, não têm história, e são formados na esquina. O cara contrata onze jogadores célebres e faz um campeonato, pode levar até a Copa do Mundo. Não é o caso do Sport, que tem 117 anos, que tem uma história. Pedra sobre pedra montada, tijolo por tijolo, fizemos uma história. Como é que agora a gente vai vender a nossa marca para um terceiro?”, questiona o deputado federal.

OUÇA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA DE LUCIANO BIVAR À RÁDIO CLUBE


Sport alvirrubro?

Segundo Bivar aponta uma suposta negociação do Sport pela SAF, que segundo ele tem levado a conversas com o grupo que gere a empresa de alimentos Sadia, questionando se o Leão mudaria suas cores para o vermelho e branco, igual ao tradicional rival alvirrubro, Náutico.

“Como é que agora a gente vai vender a nossa marca para um terceiro, que até estavam comentando, parece que o terceiro pudesse ser até a Sadia, ou seja vermelho e branco, e vai mudar as cores do esporte para vermelho e branco? Então é impressionante isso”, interroga, antes de citar os serviços prestados por ex-presidentes do clube.

“Eu fico pasmo. Essa situação que quer agora vender o clube. Então, para mim não é fácil hoje colocar meu nome à disposição dessa chapa de jovens, que é inevitável esses jovens que vão nos suceder Já estamos aposentados. Eu estou aposentado do Sport, mas não posso admitir, não posso permitir que se venda a nossa história”, completa.

Yuri Romão aponta "irresponsabilidade"

Ouvido pela reportagem do Esportes DP, o atual presidente executivo do Sport e candidato para mais um mandato, Yuri Romão rebate as acusações e vê “falta de responsabilidade” no posicionamento do ex-presidente Luciano Bivar.

“Primeiro, não existe nenhuma negociação com o Sport. Estou afirmando que não tem nenhuma negociação em curso. Zero. O que há neste momento são consultas, e estamos chegando a seis consultas de investidores brasileiros e internacionais, que querem saber sobre os números do Sport. Isso não tem nenhum problema de mostrar e abrir os números, desde que assine a NDA (contrato de confidencialidade), que isso é uma coisa extremamente natural no mundo corporativo, uma empresa saber como anda a empresa que ela tem interesse”, inicia Romão.

“Se o Barcelona quiser e tiver interesse em olhar os números do Sport, ou o Milan, ou qualquer clube, é óbvio, eu enquanto presidente do clube, ia dizer para não virem? Quando existir proposta, aí se olham os números, e vê o que vale de investimento. Recebe-se a proposta, e leva para o Conselho, uma Assembleia de sócios para decidir. Essa decisão não é do presidente, e isso o sócio precisa ter noção. É decisão do conselho e dos sócios. Se vai ser SAF, quem aprova é a Assembleia de Sócios. Não é Yuri e nem será o ‘terceirizado’”, retrucou.

O atual presidente alega ainda que Luciano Bivar não tem conhecimento pleno sobre o tema SAF. “Essa falácia, essa narrativa que estão querendo criar, de que a gente vai vender o clube, que vai ser vermelho e branco. É uma discussão rasa, sem nenhuma argumentação técnica. Eu conversei com Luciano (Bivar) na sexta-feira, e ele não sabe o que é uma SAF”, destacou.

“Dizer que nós vamos fazer uma SAF, seria preconceituoso, e eu seria omisso se não colocasse esse assunto para ser discutido. Eu vou deixar passar em branco no clube um assunto que hoje é o assunto no momento no futebol brasileiro? O Sport vai ficar fora dessa discussão? Será que não cabe no futebol pernambucano? Vai que o Náutico, o Santa Cruz adotam a SAF, ficam dois gigantes, e nós continuamos no estado que estamos hoje? Aí vão dizer que fui omisso, irresponsável e preconceituoso. Falar de SAF sem saber o que é SAF, é uma irresponsabilidade. Sem conhecer a lei, as obrigações, é uma irresponsabilidade, é um preconceito”, completou Yuri Romão.

Mudança na Lei Pelé e movimento de Zezé Perrella por “Cruzeiro Palestra”

Seguindo na pauta da SAF, Luciano Bivar apontou que deve levar ao Congresso Federal, onde exerce o cargo de deputado, um movimento em forma de proposta de Lei para substituir a Lei 9.615, de 24 de março de 1998, mais conhecida como “Lei Pelé” ou “Lei do passe livre”, que tirou dos clubes o poder exclusivo sobre os direitos econômicos e federativos dos jogadores do futebol brasileiro, entre outras questões do esporte no país.

“A SAF é um tsunami, que eu tenho que passar por debaixo dessa onda monstruosa para poder respirar. A gente, sendo eleitos, vamos fazer o melhor, vamos arranjar o melhor patrocínio, vamos usar a nossa força agora. Se nós, investindo oficialmente como representantes legítimos do Sport, eu posso dizer que primeiro dia na nossa legislatura a gente vai brigar para trazer a propriedade dos passes dos jogadores para o clube. Não mais ter, vamos alterar a Lei 9615, que é a famigerada Lei Pelé. Isso nós vamos fazer. Vou conversar com meus pares, vou conversar com as lideranças e vamos alterar isso”, afirmou Luciano Bivar, antes de argumentar.

“Aquele garoto que vier a jogar no Sport não vai ser mais um dono não. O dono dele é o Sport. Como o dono do jogador do Santa Cruz é o Santa Cruz. Como é que pode agora o Santa Cruz, o Náutico, o Sport, amanhã ficar sem nenhum sem nenhum ativo de atletas, que é o grande ativo dos clubes? Então vamos retornar isso para que o Brasil continue com uma grande potência no futebol mundial.

Ainda no tema, Bivar também revelou ter conversado com o ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrella, afastado do cargo do clube mineiro em 2019, em meio a uma crise institucional e administrativa, que culminou no rebaixamento inédito à Série B e uma série de punições na FIFA por débitos trabalhistas com atletas. Segundo Bivar, após o clube ter entrado na parceria com o ex-atacante Ronaldo, hoje presidente da SAF no clube, o Cruzeiro teria ‘perdido’ o Centro de Treinamentos da Toca da Raposa, e um novo movimento está para nascer, orquestrado por Perrella, o “Cruzeiro Palestra”.

“Envolvido nesse negócio (discussão da SAF), eu falei com o Zezé Perrella tem dois dias. E o Zezé disse ‘Luciano já perdemos, a Toca da Raposa’. E já perdeu. Já não pertence mais ao Cruzeiro. E eu vou fazer uma Inconfidência aqui. Estão pensando, aqueles tradicionais do Cruzeiro, em fazer um novo clube, chamado ‘Cruzeiro Palestra’. Porque não tem mais o Cruzeiro. Se Ronaldinho amanhã quiser, não tiver sucesso financeiramente, ele vai deixar o juniores para disputar o Campeonato Brasileiro com a camisa do Cruzeiro. Está certo é isso, simplesmente. Aí se o Cruzeiro não alçar alguma coisa eu vou fazer isso, imagina a gente, aqui no Nordeste? Os clubes lá de Caruaru, de Vitória de Santo Antão? Cai ser um caos”, destaca, antes de atacar novamente a Lei Pelé.

“É aquilo que a gente já previa, há vinte anos atrás, com o advento da Lei Pelé. E agora inventaram uma coisa, não bastaram ter as procurações dos jovens atletas, que o pai responde por ele às vezes, como agora eles querem os clubes. Avançaram sobre os clubes. A fome, a sede é insaciável. As coisas passam dos bilhões de dólares e estão se encaminhando para esses interesseiros, que não têm amor ao clube, tradição ou história”, completa.

Bivar aponta ainda um comparativo entre o modelo de gestão SAF e um dono de cavalos de corrida. “Torcer para o clube, eles vão torcer, como o cara que tem um cavalo no hipódromo vai torcer por ele. Mas se o cavalo quebrar a pata, ele chega na pista e dá um tiro na cabeça do cavalo, que não serve mais para nada”, e se posiciona novamente contra o movimento no Sport. “Eu não vou deixar que atirem na cabeça do meu cavalo. É simplesmente isso. O Sport tem 117 anos e vai continuar com seu patrimônio, sua vida e sua história”, completou.

Consultoria contratada pelo Sport

O ex-presidente Luciano Bivar alega também que há uma consultoria contratada pelo Sport para viabilizar a SAF. “Já existe, de fato e de direito. Já existem documentos com a empresa de consultoria assinada. A gente quer derrotar esse processo de venda do clube. Isso é primordial, é prioritário, é básico, sela o destino do Sport. De todas as contendas que nós tivemos ao longo desses 117 anos, nunca houve uma tão importante na vida, na história do Sport, como essa. Uns querem vender o clube e outros não querem vender o clube. Daí para a frente tudo vai se resolver. Mas no momento que você mata, não tem como ressuscitar. Não existe na ciência e no campo social algo que morreu e que você ressuscite”, destacou, ao minimizar o debate sobre uma possível demissão de Enderson Moreira, contratado há menos de um mês, após a Série B.

Ao passo que Yuri Romão também respondeu ao comentário à reportagem do Esportes DP. “Se tem um presidente austero, que senta em cima do dinheiro do clube, e só paga o que é devido, sou eu. Não existe outro. Só contrato se há a necessidade. Não existe outra situação. Isso falta argumentação”, apontou.

“Nós, essa gestão, não vamos vender nada. Nada. SAF não é para vender nada. Não é isso. SAF é atrair o investidor privado para junto do clube e assim os dois, o clube e o investidor, fazerem que o futebol cresça. Inclusive, a Lei da SAF traça algumas metas, de que precisa pagar em cinco anos 60% dos débitos do clube, da associação. Caso não consiga, perde pelo pé e o CNPJ é extinto. O Sport deve R$ 300 milhões hoje. Em cinco anos, a SAF é obrigada a ter rendido à associação pelo menos R$ 180 milhões para pagar ao menos essa parte esses débitos. É Lei”, concluiu o atual presidente do Sport.

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