A história não contada de Dona Maria: relembre especial sobre torcedora símbolo do Sport
Em 2020, DP Esportes fez uma matéria relatando as origens e a luta contra vários preconceitos que a rubro-negra ilustre teve que enfrentar. Dona Maria faleceu neste domingo (10), aos 98 anos
Dona Maria esteve na Ilha do Retiro este ano, em maio, na vitória do Sport por 3 a 0 sobre o Botafogo-SP (Foto: Sandy James/DP)
Na maoria das reportagens as quais foi personagem, Dona Maria José sempre foi retratada pela sua alegria nas arquibancadas da Ilha do Retiro - torcedora símbolo do Leão, ela faleceu na manhã deste domingo (10), aos 98 anos. Dona Maria enfrentava complicações de um câncer e foi vítima de falência múltipla dos órgãos. O velório de Dona Maria será na tarde deste domingo (10), às 16h, na sede da Ilha do Retiro. A celebração será nesta segunda (11), também às 08h, na sede do Clube. O enterro, por sua vez, será às 11h desta segunda (11), no cemitério de Santo Amaro.
Mas em 2020, a repórter Camisa Sousa, à època do DP Esportes, fez uma grande matéria relatando as origens e a luta contra vários preconceitos que a rubro-negra ilustre teve que enfrentar. Na ocasião, ela tinha acabado de comemorar 95 anos.
A história não contada de Dona Maria foi o título da reportagem. Uma saga de uma mulher que teve a vida marcada pela superação, enfrentou o abandono dos pais, racismo e o trabalho infantil, além de ter sido vítima de violência doméstica. “Todo mundo que me vê assim hoje, sorrindo, alegre… Não sabe o quanto eu sofri. Mas hoje estou aqui. Não desisti nunca”, disse Dona Maria na entrevista.
Nascida no município de Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte de Pernambuco, a torcedora do Sport não gozou do luxo de viver cada uma das etapas naturais da vida. De criança a mulher adulta. Vinda de família pobre e filha única de um lavrador de cana-de-açúcar, Dona Maria teve que tomar as rédeas da própria vida desde muito cedo. Abandonada pela mãe após seu nascimento, Dona Maria passou a morar com o pai ao lado da madrasta. A ausência da figura materna, nunca conhecida por Dona Maria, também não foi suprida pela madrasta.
“Na minha infância, eu não tive direito a brincar. Quando eu era meninota, a minha madrasta era muito ruim, dava muito em mim e não deixava eu sair para brincar. Aí eu fugia todo dia de casa. Já dormi em canavial de cana no meio da noite, passando o dia todo escondida com medo das cobras, porque não queria apanhar. E meu pai não fazia nada, porque era ‘pau mandado’ dela”, contou. A violência física, no entanto, não foi o único mal conhecido por Dona Maria quando criança. Ela também sentiu na pele o racismo. “Meu pai disse que não queria ficar comigo porque minha madrasta não gostava de mim, porque eu era preta. Aí ele me deixou”, confessou.