Reeleito com mais de 82% dos votos dos sócios do Sport, o empresário Yuri Romão reconhece que 2025 será o ano mais desafiador desde sua chegada à presidência do clube da Praça da Bandeira. Aos 56 anos, ele assumirá a responsabilidade de consolidar os avanços de sua gestão nos próximos dois anos, especialmente agora que o Leão é Série A.
Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Yuri Romão abordou as mudanças no futebol, a situação financeira do clube, a recuperação judicial e a transição para a SAF. Ele também destacou que será o último presidente eleito conforme o estatuto atual, evidenciando a importância de sua administração nesse contexto, Romão comentou ainda sobre a relação com ex-presidentes e enfatizou que nutre todo o respeito por eles.
O clube em 2024
Não costumo avaliar o desempenho do clube apenas pelo prisma do futebol, embora esta modalidade seja, sem dúvida, o carro-chefe do Sport Club do Recife. É uma entidade muito mais ampla, configurando-se como um verdadeiro clube sócio desportivo. O ano de 2023 foi significativo, mas 2024 trouxe uma visibilidade ainda maior, marcada pelo sucesso em diversas frentes, fechando com o acesso à Série A. Destaco também a finalização do acordo no plano de recuperação judicial e a aprovação do projeto de Retrofit da Ilha do Retiro. Fica até fácil falar sobre o que isso moldou para o futuro do clube. A reestruturação realizada entre 2022 e 2023 criou uma base sólida, permitindo que, mesmo diante de oscilações no desempenho esportivo, tomássemos decisões estratégicas para mudar nosso rumo. Anteriormente, a escassez de recursos financeiros, tecnológicos e humanos limitava nosso progresso. Agora, com os pilares estabelecidos, temos a confiança necessária para continuar o trabalho em 2025 e 2026, focando na consolidação do projeto que iniciamos.
Transição no futebol
A filosofia do departamento de futebol permanece inalterada. O objetivo continua o mesmo: a transição planejada. Raphael Campos (eleito vice-presidente e que fez parte do comitê gestor), teve a missão de reestruturar os processos internos dos departamentos nestes últimos anos. João Marcelo Barros era responsável pela integração das categorias de base com o time profissional, algo que não existia. E Guilherme Falcão, com sua experiência no setor, já tendo trabalho em outras ocasiões no clube, e por seu perfil, era o líder deste comitê gestor. Com a consolidação desse trabalho, não há necessidade de manter três pessoas à frente. Guilherme ficará no comando e Carlos Brazil, que foi apresentado na semana passada, assumirá funções administrativas. A tendência é que João vai para outra missão no clube, devendo ir para uma área que ele atua, que é a tecnologia.
Mercado: mais não ou sim?
Não diria que teve mais sim ou não. Estamos em negociações com diversas partes e planejamos contratar cerca de dez atletas, buscando maior assertividade nas contratações. Nossa abordagem será mais ambiciosa, visando montar um time competitivo para 2025, Mas é importante colocar que isso tudo é bem diferente do início de 2023. Hoje somos receptores de propostas, não demandadores.
Folha salarial
A folha salarial inicial deverá girar em torno de 6 a 7 milhões de reais por mês. Não tem como ser diferente neste início de ano. É importante esclarecer que não trabalharemos com salários próximos a 500 mil reais, como tem sido divulgado. Nosso teto salarial é significativamente mais baixo. O ano de 2025 promete ser financeiramente desafiador, e é crucial manter o equilíbrio entre razão e emoção. Se a gente fosse na pressão da mídia social, da torcida, eu já teria contratado, pelo menos, um cinco Messis. E deixava o “pepino” para as próximas gestões. Não podemos ceder à pressão da mídia ou da torcida, pois isso nos levaria a decisões precipitadas, como contratações irresponsáveis. O que ocorreu no passado foi um erro, e não devemos repetir essa prática.
Receita para 2025
A expectativa que tenho, pela experiência que tive nestes últimos anos, é de uma receita recorrente que gire em torno de 180, 190 milhões de reais. Claro que se tiver alguma venda, esse número pode aumentar. Mas ainda estamos trabalhando muito na base da expectativa. Mas tenho que olhar o clube em um todo, não apenas com o futebol. Vamos lá: Mensalmente, com folha do administrativo e outras operações, devemos ter um custo em torno de 1,5 milhão de reais, totalizando 18 milhões de reais anuais. Além disso, devemos destinar cerca de 30 milhões de reais para pagar débitos relacionados ao plano de recuperação judicial e à Procuradoria-Geral da Fazendo Nacional (PGFN). Lembrando que ainda temos os impostos correntes, que se arrecadarmos algo em torno de 180 milhões de reais ficaria na faixa de 25 milhões de reais. E, claro, acrescentando a folha do futebol. Por isso que será muito mais apertado para que tudo dê certo no próximo ano.
Marketing e Comercial
Precisamos ser mais inovadores nas áreas de marketing e comercial. Estamos trazendo profissionais mais qualificados para transformar o Sport em um clube mais rentável. Com a organização e visibilidade que conquistamos, é possível que terminemos 2025 com déficit, mas isso será gerenciado para que 2026 seja equilibrado.
Equilíbrio financeiro
Quem me conhece, na vida pessoal ou empresarial, sabe que eu não gosto de gastar mais do que recebo. A experiência adquirida ao longo de 41 anos de carreira profissional me ajuda a manter a austeridade nas finanças. Não tenho vaidade com nada no clube, por sinal ela está bem abaixo do bom-senso. Minha vaidade é que todo mundo respeite o clube, como está sendo feito. E para manter isso, tem que ter esse equilíbrio. Então, qual foi a varinha mágica para estes três anos? Os recursos entraram e soubemos administrar. Precisei fazer algumas “loucuras”? Sim, mas sabia que ia entrar e me antecipei aos fatos. Por exemplo, as intervenções que fizemos neste ano na Ilha do Retiro não tinha dinheiro em caixa. Mas sabia que viria um recurso e que poderia separar uma parte para que a obra fosse iniciada. Ao longo desses três anos, soubemos administrar os recursos que entraram, realizando intervenções necessárias na Ilha do Retiro, mesmo sem fundos imediatos, mas com a certeza de que os recursos viriam.
Sentando no dinheiro
Quando a gente vendeu Gustavo, Mikael e Maílson, todo o recurso que o clube recebeu pelas negociações eu sentei em cima do dinheiro. Naquele momento, se eu fosse um desvairado, poderia ter pego aquele dinheiro, gastado tudo em contratações e não ter pago nada. A gente poderia ter subido, mas com certeza a gente iria cair no ano seguinte, pois não tinha alicerce, o endividamento ficaria ainda maior e perderíamos, mais uma vez, a credibilidade, que tanto a gente lutou para conquistar. Por isso que decidimos pagar tudo em 2022. Isso deu um recado ao mercado, que começou a olhar a gente diferente, abrindo as portas. Tanto que em 2023 montamos um bom time, que não subiu por um acaso do futebol. Não sou conservador ao usar o recurso, mas sou austero. Não deixo a coisa andar solta.
O comitê para a SAF
Pretendemos formar um comitê que não seja composto apenas por torcedores, mas por profissionais qualificados que consigam discernir entre a função de dirigente e as emoções da torcida. Eu tenho isso muito bem definido comigo. Eu, Yuri Romão, sei separar as coisas. Tenho colegas de trabalho que não conseguem. Eles se transformam na hora do jogo. A entrada de um investidor na SAF requer uma abordagem racional, de alguém que passará 10, 20, 30 anos dentro do clube e precisa ser uma escolha criteriosa para garantir o futuro do clube. O novo estatuto, que entrará em vigor em 1º de janeiro, definiu perfis específicos para os membros do comitê.
Abrindo portas
Não tenho nenhum conceito definido na minha cabeça sobre a SAF no Sport. O mais importante é aproveitar esse relacionamento que tenho hoje no futebol e abrir portas para que esse comitê converse com as pessoas. Quem foi que fez SAF hoje no Brasil? Entre os executivos destaco Carlos Amodeo, que está hoje no Vasco da Gama; Gabriel Lima, que está no Coritiba e que fez a SAF do Cruzeiro; e o Thairo Arruda, que fez do Botafogo. Tenho um excelente relacionamento com estes três e que vão precisar ser consultados. Para dizer o que acharam de bom e de ruim. Conversar com consultorias, coincidentemente, a Álvarez e Marçal, que já está dentro do Sport e que participou de todas essas SAF acima. Reunir com advogados que fizeram a parte legal e fiscal. Como é que o processo de pegar dinheiro lá fora, passar pelo Banco Central e chegar no clube. Isso tem uma taxação e precisamos entender tudo isso. Agora, digo com convicção: eu não vou me meter. Vou abrir portas, mas quero resultados. E dentro destes relatórios, tomar decisões. O Comitê terá total autonomia e isenção neste trabalho.
Retrofit
O ano de 2025 será dedicado ao projeto de Retrofit da Ilha, que precisa ser validado pela Prefeitura do Recife. Embora ainda não tenhamos conversado com a Arena de Pernambuco sobre possíveis jogos fora da Ilha no Arruda ou nos Aflitos, não descartamos essa possibilidade. Mas tudo isso fica para 2026.
Ingressos
As reclamações que a gente ouve, algumas têm fundamento, outras não. O número de sócios com direito a ingressos gratuitos é limitado a 50% da carga de ingressos (hoje, em torno de 26 mil torcedores), e a demanda supera a oferta. Quando o sistema abre, tem uma fila de mais de 20 mil querendo ingressos. Logicamente, alguns não vão ter. É fato. Tem que comprar. O clube não pode disponibilizar todos os ingressos, pois precisamos pagar as despesas da partida. Um jogo custa entre 150 a 300 mil reais. Tenho que ter receita, senão acabo afundando o clube. Essa receita paga as despesas do jogo (energia, segurança, funcionários) e quando ganhamos temos que pegar o bicho dos atletas. A PM exige, para um público de 26 mil torcedores, pelo menos 280 seguranças, que dá um custo de 40, 50 mil reais. O sistema não é ruim. Não existe favorecimento para ninguém.
Infraestrutura
Acho que cabe uma reflexão nossa. Autorizei a limpeza dos banheiros. Lógico que tem a parte cerâmica que está desgastada. O aspecto é feio. Mas, por qual motivo apenas autorizei isso? É que vamos ter um retrofit na Ilha. Uma reforma em um banheiro custa, em torno, de 50 mil reais. O nosso estádio tem mais de 50. Não podemos fazer apenas em um. Tem que ser em todos. Foi uma decisão difícil que tive que tomar. Para 2025, vamos ter uma empresa que ficará responsável por essa limpeza. Isso significa outro custo para o clube.
Rompimento com os ex-presidentes
Não acho que houve rompimento. A política é a arte de juntar pessoas em torno de um projeto. O nosso projeto agradou os ex-presidentes Gustavo Dubeux, Leonardo Lopes e João Humberto Martorelli, que queria ver ele sendo capitaneado por outro. Totalmente legítimo. Acho que nosso projeto era o melhor, tanto que 83% dos sócios aprovaram nesta ideia. Agora, a relevância dos três é enorme, tem o meu respeito, tem o respeito de nossa gestão, agora ao longo do tempo, se houver convergência, estamos prontos para conversar. Que fique bem claro: não houve rompimento por minha parte. Não fui procurado por eles e nem procurei, também.
CT José Andrade Médicis
O escritório de Carlos Fernando Pontual está em recesso até o dia 15 de janeiro. Ele será o arquiteto que ficará à frente do projeto. Tenho reuniões na CBF no dia 13 e 14, e começo a pensar a confeccionar o projeto do novo CT dos 4 hectares. Vou conversar internamente, para definir o que será feito. Vamos pegar o grupo e começar a conhecer alguns CTs pelo País para que o projeto seja iniciado. E quero terminar tudo ainda na minha gestão.
Futebol feminino
Contratei um profissional para ficar mais focado no futebol feminino. Ainda não posso revelar o nome, pois o contrato não foi assinado. O futebol feminino precisa ter um olhar mais profissional. Temos uma guerreira no clube, que é Nira, mas precisamos ter mais pessoas qualificadas para colocar o Sport em outro patamar. Fizemos uma grande campanha no Brasil Cups, que ainda não é a equipe do sonho e será ainda mais forte em 2025.
Esportes olímpicos
Preciso ter um olhar diferenciado, é uma promessa minha de campanha. Conversei com Silvio Neves Baptista Neto para assumir uma área mais estratégica, que é destravar a questão da CND, que foi um ponto que pecamos nisso, até para criar projetos específicos para a lei de incentivo ao esporte.
Último presidente
Tenho a consciência que serei o último presidente do Sport, já que o novo estatuto coloca que a próximo gestão, independente de SAF, terá um conselho para administrar o clube. Isso foi um grande avanço neste novo estatuto. Você dividir essa responsabilidade com outras quatro pessoas. Isso acaba mitigando possíveis equívocos.
Seu estilo de gestão
Sou autocrítico e não centralizador, o que considero uma qualidade. Gosto que as pessoas aprendam com os erros, mas mantenho um olhar atento ao que acontece. Estou sempre em busca de informações precisas e valorizo muito o relacionamento, o que tem contribuído para o sucesso do Sport nos últimos anos. Não sou imediatista; busco um futuro mais lucrativo, o que pode levar a uma abordagem mais cautelosa em algumas situações. Sempre me cobrei muito e sou um cara estourado. Minha paciência é muito curta. Se vou mudar algo em 2025? Como pessoa, não. Como gestor, sim. Como disse, os desafios são completamente diferentes no próximo ano. Maiores, mas prazerosos. Uma coisa é você ficar correndo atrás do rabo o tempo todo, apagando incêndio. Agora, não. Estamos falando de crescimento do clube, de investimento, de visibilidade da marca do Sport, seja nacional ou internacional, de patrimônio, de Primeira Divisão. Ou seja, de tudo isso, é muito mais prazeroso. Porém, é muito trabalhoso. Por isso que preciso trazer pra junto de mim pessoas capacitadas e que estejam acostumadas com este novo perfil. Uma coisa é você ter uma empresa que fatura 1 milhão por ano. Outra é ter uma que fatura 100 milhões por ano. Trago isso para o Sport. Precisamos fazer algumas mexidas, trazendo outros profissionais, pois os desafios serão mais complexos.