Por Marcelo Cavalcante*
A Argentina virou Brasil. Mais precisamente em Buenos Aires, sua capital, que se vestiu de preto e branco, e está dividida entre mineiros e cariocas. Nada estranho já que estamos falando de dois países que amam futebol e vivem a expectativa de uma final brasileira de Taça Libertadores da América. Neste sábado, a partir das 17h, a bola rola para a disputa de uma final inédita.
Atlético-MG e Botafogo disputam um confronto de parar o coração para ver quem é o melhor clube da América do Sul. O palco é o mesmo da final da Copa de 1978. O Monumental de Nuñez terá uma festa brasileira, com certeza.
E para os torcedores dos dois clubes, sair do País para ver uma decisão, não tem preço. Sair da atmosfera da rotina e respirar novos ares. Um universo que abre a prosperidade de um título. O orgulho e amor são oxigênio para a realização de um sonho. Sendo assim, não há como perder a oportunidade de apoiar o time. Aquelas contratações equivocadas, jogadas bisonhas e gols absurdos perdidos são esquecidos. Xingamentos riscados do dicionário boleiro. O amor é que toma conta. É o que justamente permeia a mente da carioca Simone Zani, que ao lado do esposo Yuri Zani, e o filho Rafael, de apenas 15 meses de vida, e a que faz sair do Canadá para apoiar o Botafogo nessa grande decisão.
Simone e Yuri deixaram o Rio de Janeiro há alguns anos em busca de melhor qualidade de vida. E levam a paixão pelo futebol com uma particularidade: ela é botafoguense de coração e não abre mão desse amor. Ele é torcedor do Flamengo, mais brando e, portanto, não faz cara feia para torcer pelo time rival, mas da sua esposa. A paz em casa, no que se trata de futebol, é reflexo de uma longa amizade. São amigos de infância, se tornaram namorados ao longo dos anos e chegaram ao altar. Trocaram sim. Em Buenos Aires, encontraram amigos, familiares e confraternizaram em nome do futebol. “Já fiz a loucura de ir a um Botafogo x Flamengo na véspera do meu casamento. Vencemos com direito a gol de Loco Abreu, numa cavadinha cobrando pênalti”, lembra Simone.
GALO
Os torcedores do Atlético-MG também fizeram suas loucuras. O grupo de torcedores, chamado Motogalo, saiu de Belo Horizonte para Buenos Aires de moto. São 2.578 quilômetros de estrada. A duração da viagem é 35h, mas que se estende pois seus integrantes vão parando no caminho para celebrar a paixão pelo Galo e pela moto. “A soma dessas paixões fez surgir a Motogalo. E estamos indo para comemorar mais uma conquista”, diz Antonelli, um dos fundadores do grupo.
O odontólogo e escritor Aloísio Junior, ao lado da esposa Marise e os filhos Bruno e Henrique, decidiram passear por Buenos Aires, quando o Galo ainda disputava as semifinais. Deu tudo certo. A família se juntou às famílias amigas Henrique, Paula e Pedro Henrique, e Gustavo e Waleska, para brindar a paixão pelo Galo. “Vamos comemorar no pagode do Galo”, diz Aloísio.
Circular pelas ruas de Buenos Aires, nos últimos dias, foi desfrutar do desfile de liberdade. Parece paradoxal, afinal, no Brasil, o que mais se ver são episódios de violência por falta de respeito e compreensão de que todos tem o direito de escolha por qual clube torcer. Mas parece que uma decisão de Libertadores, entre clubes de estados distintos traz um sentimento fraternal. Foi possível ver botafoguenses e atleticanos num mesmo ambiente e em paz.
Mas havia os QGs das torcidas. No bairro da Recoleta, a diretoria do Atlético-MG arrendou um bar e ornamentou com os adereços do clube. Já a torcida do Botafogo ficou, em sua maioria, em Palermo. Em ambos os bairros, a festa parecia não ter hora para acabar. Imagina como será quando o árbitro apitar o final da grande decisão. Seria tão bom que essa festa do futebol fosse infinita nos quatro cantos do mundo.
*Jornalista parceiro