Na imagem, Ademar vestindo a camisa do clube que o revelou ao futebol (Foto: Cortesia)
Para milhares de brasileiros, o futebol é um terreno fértil para sonhos. Há quem diga que não há uma criança que nunca sonhou em ser jogador profissional de futebol neste país. O caminho para atingir tal objetivo, no entanto, não é fácil: no Brasil, para se tornar atleta, o jovem passa por peneiras dentro e fora de campo. Por isso, mesmo o país sendo uma ‘fábrica’ de novos talentos, nem todos os promissores brasileiros conseguem ganhar a vida com a bola nos pés.
Quem sabe muito bem disso é o jogador aposentado Ademar Tavares, de 41 anos. Ex-lateral esquerdo de Sport, Náutico e outros clubes do futebol nacional e internacional, ele saiu do humilde bairro de Socorro, em Jaboatão dos Guararapes, e, até atuar pelo futebol europeu, enfrentou diversos percalços na sua carreira.
“Eu saí de um bairro humilde, onde a perspectiva de se tornar profissional era zero. Era só questão de sonho”, disse em entrevista à reportagem do Esportes DP.
Em cerca de 15 anos de carreira profissional, Ademar atuou pelo futebol brasileiro e búlgaro, onde conquistou o afeto do Cherno More, da cidade de Varna, e atuou pelo tradicional CSKA Sófia, da capital. E, diretamente do Leste Europeu, o ex-lateral traz ao Recife um projeto satélite para captar jovens que, assim como ele sonhou, desejam se tornar profissionais, mas esbarram em dificuldades.
No caso, segundo Ademar, jovens atletas maiores de 18 anos oriundos de bairros periféricos da Região Metropolitana da capital pernambucana. E, mais importante, que tenham bola no pé - assim como ele teve no decorrer de sua trajetória.
“No projeto, eu vou trabalhar como representante do clube no Brasil enviando jogadores para eles. Eu tinha esse desejo que se tornou um sonho. De dar oportunidades para quem não tem. Porque tem muitos talentos que se perdem por falta de chances. O projeto funcionará como uma espécie de radar de atletas. Vamos identificar o melhor de cada um e treiná-los no padrão de excelência exigido pelo clube búlgaro para que possam ser contratados e jogarem no Cherno More”, diz.
Ademar desembarcou na Bulgária pela primeira vez há mais de dez anos. Na temporada 2009/10, o jaboatonense foi contratado pelo Cherno More, que disputa a Primeira Divisão, e, quando chegou ao clube, foi recepcionado pelo ex-meio-campista Eli Marques, de 40 anos, que também construiu história no futebol do país. Eli, inclusive, será um dos personagens importantes para a captação desses novos atletas.
“Na época, o Cherno contratou Eli para me ajudar na adaptação, porque eles viram meu potencial como atleta. Mas tinha a dificuldade do idioma, dos treinamentos e da alimentação. Hoje, a gente está em parceria porque ele tem uma agência. E o processo que a gente vai fazer é diferente dos demais empresários”.
“O atleta que eu levar através do satélite, eu vou ficar lá até ele assinar o contrato e tudo estiver resolvido. Ele vai entrar no clube por essa agência de Eli Marques. Quando eu retornar ao Brasil, o atleta será assessorado por outro brasileiro que estará lá há mais de 18 anos. E ele dará 100% de assistência ao atleta, que foi um dos fatores que eu não tive”, contou.
De acordo com Ademar, a captação de atletas do projeto satélite do Cherno More será realizada de duas maneiras. Além das peneiras realizadas nos bairros periféricos do Recife, o ex-jogador ficará atento aos campeonatos de várzea pela cidade - além disso, serão montadas ‘células’ do projeto em pontos estratégicos da RMR.
Ao selecionar os atletas que irão compor o time do projeto, vídeos, registros e análises técnicas e táticas sobre os jogadores serão enviadas diretamente à cúpula do Cherno More. Na Bulgária, em caso de necessidade do clube, será enviado o pedido pela contratação do atleta, que será acompanhado por Ademar no país até a confirmação do vínculo entre as partes.
“O atleta que a gente selecionar aqui, será filmado e mandaremos para eles acompanharem lá. De acordo com a necessidade do clube, ele vai ter o jogador. Eles chegam e dizem: ‘Ademar, manda Antônio’. Assim, enviam a passagem e levam o atleta. Somente acima de 18 anos. De menor, mesmo com autorização não queremos. Os menores estarão treinando com toda metodologia do clube no Brasil”, concluiu.
O projeto satélite do Cherno More no Recife, liderado por Ademar, ainda está em fase inicial. Segundo o ex-lateral, a execução está sendo 'passo a passo' e contará com uma equipe técnica preparada sob a sua supervisão.