Pedaço de banana é atirado no banco do Sport em jogo com Internacional (Foto: Reprodução)
Nos últimos anos, a tecnologia tem sido uma aliada fundamental na denúncia de casos de racismo no futebol. Câmeras de transmissão, imagens captadas por torcedores e publicações nas redes sociais têm ajudado a expor agressões que antes passavam despercebidas. No entanto, mesmo com provas concretas, a punição aos infratores ainda está longe de ser exemplar.
A CBF, por sua vez, implementou punições esportivas para casos de racismo em seu Regulamento Geral de Competições desde 2023. As sanções podem incluir multas, jogos com portões fechados, perda de mando de campo e até perda de pontos. No entanto, até agora, nenhum clube foi punido desportivamente com a perda de pontos.
O caso mais recente envolve o time feminino do Sport, que denunciou um episódio de racismo na partida contra o Internacional pelo Brasileirão Feminino. A CBF solicitou ao STJD uma punição preventiva ao clube gaúcho, com perda de mando de campo por três jogos.
Um dos exemplos mais recentes ocorreu com Luighi, jogador do Palmeiras, vítima de ofensas racistas por parte de um torcedor do Cerro Porteño durante a Libertadores Sub-20. Apesar das evidências, a Conmebol aplicou apenas uma multa de US$ 50 mil ao clube paraguaio e determinou que a equipe jogasse sem torcida na competição.
A disparidade de medidas e a recorrência dos casos mostram que o futebol ainda está longe de erradicar o racismo. Embora avanços tenham sido registrados, como a prisão de Sebastian Avellino Vargas, ex-preparador físico do Universitário, que fez gestos racistas para a torcida do Corinthians, muitas punições ainda são brandas. Sua pena de dois anos de reclusão foi substituída pelo pagamento de dois salários mínimos a uma instituição social.
Com o crescimento das denúncias e a exposição dos casos, espera-se que as entidades esportivas e a Justiça adotem posturas mais rígidas. Sem punições exemplares, o futebol continuará sendo palco para atos discriminatórios, deixando vítimas sem o amparo necessário e incentivando a impunidade.
Releembra caso de racismo envolvendo clubes brasileiros nos últimos anos:
Internacional
03 de maio de 2023
Internacional 2 x 2 Nacional - Libertadores
Um torcedor do Nacional, localizado na arquibancada do estádio Beira-Rio, foi flagrado imitando um macaco em direção à torcida do Internacional.
Punição: A Conmebol impôs uma multa de US$ 100 mil ao Nacional.
Atlético-MG
27 de junho de 2023
Libertad 1 x 1 Atlético Mineiro - Libertadores
O goleiro Éverson, do Atlético-MG, estava concedendo uma entrevista após o fim da partida quando um torcedor do Libertad o chamou de "macaco" e fez gestos imitando o animal.
Punição: O Libertad recebeu uma multa de US$ 100 mil da Conmebol e foi obrigado a realizar uma campanha de conscientização em sua próxima partida como mandante, nas redes sociais oficiais do clube e no estádio, com a frase "Basta de Racismo".
Corinthians
11 de julho de 2023
Corinthians 1 x 0 Universitário - Copa Sul-Americana
O então preparador físico do time peruano Universitário, Sebastian Avellino Vargas, fez gestos racistas em direção à torcida do Corinthians.
A denúncia foi feita pelo Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância do Ministério Público de São Paulo.
Punição: Vargas foi preso pela Polícia Militar de São Paulo ao final da partida, acusado de atos racistas. Em dezembro, a prisão foi convertida de flagrante para preventiva. Vargas foi condenado por racismo e recebeu uma pena de dois anos de reclusão, mas a punição foi substituída pelo pagamento de dois salários mínimos a uma instituição social. A Conmebol também suspendeu o agressor por dez jogos em competições organizadas pela entidade.
Fortaleza
23 de junho de 2024
Atlético-MG 1 x 1 Fortaleza - Campeonato Brasileiro
O atleta Pedro Augusto, do Fortaleza, relatou ao árbitro da partida que foi vítima de uma ofensa racial por parte do meio-campista Battaglia, do Atlético-MG.
Punição: O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) arquivou a denúncia de racismo feita por Pedro Augusto. O caso não seguiu para a Justiça Comum.
Bahia
08 de julho de 2024
Bahia 0 x 0 JC Futebol Clube - Campeonato Brasileiro Feminino
A zagueira Suelen Santos, do Bahia, foi chamada de "macaca" pelo treinador do JC Futebol Clube, Hugo Duarte, durante a partida.
Punição: O treinador foi preso por suspeita de injúria racial, mas, dois dias depois, o Tribunal de Justiça da Bahia concedeu liberdade provisória mediante pagamento de fiança. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva suspendeu o treinador por oito partidas e o multou em R$ 15 mil. O caso segue na Justiça Criminal, com audiência marcada para 10 de abril.
Grêmio
20 de dezembro de 2024
River Plate 1 x 1 Grêmio - Brasil Ladies Cup
Durante a partida contra o Grêmio, Candela Díaz, jogadora do River Plate, fez gestos racistas contra um membro da equipe de arbitragem. Outras atletas também xingaram as gremistas de "macaca" e "negrita".
Punição: O River Plate foi expulso da competição. Seis dias após a prisão das jogadoras, a Justiça de São Paulo concedeu liberdade provisória às quatro, com medidas cautelares. A equipe teve de pagar R$ 25 mil para a vítima no prazo de cinco dias.
Athletico
25 de janeiro de 2025
Coritiba 0 x 0 Athletico - Campeonato Paranaense
O zagueiro Léo, do Athletico, foi chamado de "macaco" logo após ser expulso durante o jogo contra o Coritiba.
Punição: O torcedor foi identificado, confessou ser o autor das injúrias raciais e foi liberado. O caso segue em segredo de Justiça.
Palmeiras
06 de março de 2025
Cerro Porteño 0 x 3 Palmeiras - Libertadores sub-20
Um torcedor do Cerro Porteño imitou um macaco em direção ao jogador Luighi, do Palmeiras, que ficou revoltado e deixou o campo chorando, desabafando em entrevista após a partida.
Punição: O Cerro Porteño foi multado em US$ 50 mil e proibido de ter torcedores em jogos da Libertadores sub-20.