Esportes DP

TENIS DE MESA

Após feito inédito na Copa do Mundo de tênis de mesa, Hugo Calderano fala sobre nova fase

O obstinado Hugo Calderano curte o título inédito da Copa do Mundo, fala sobre o rebuliço que pode ter causado demissão na Associação Chinesa ao furar a bolha da modalidade e observa o aumento da popularidade, até mesmo fora do Brasil

postado em 25/04/2025 10:35 / atualizado em 25/04/2025 10:37

<i>(Foto: Divulgação/ITTF)</i>
O que antes os olhos de Hugo Calderano só viam, o coração agora sente. Embora cinco dias tenham se passado desde a conquista inédita da Copa do Mundo de tênis de mesa, em Macau, na China, o carioca de 28 anos ainda processa o feito de ter quebrado a hegemonia chinesa, justamente em território "inimigo". A façanha do "novo" número três do ranking abalou as estruturas do país potência da modalidade e provoca a "Calderano mania".

Calderano curte a semana mais importante da carreira e "boom" nas redes sociais. Nos últimos dias, viu saltar para 1,2 milhão o número de seguidores no Instagram. Claro, há brasileiros, mas também chineses que o veem para além de algoz. "Os chineses gostam muito de tênis de mesa, todas as competições na China lotam os ginásios e, dessa vez, não foi diferente, desde a fase de grupos. Sempre que estou na China, também recebo muito carinho dos fãs de lá, eles são muito respeitosos", relatou.

"Em Macau, inclusive, é muito difícil até a gente andar na rua. Você sai um pouco, vêm muitas chinesas, acho que 95% dos fãs são mulheres, isso é bem curioso e eu já tinha consciência disso, mas acho que agora, com o título da Copa do Mundo, vencendo o chinês, acho que vai aumentar a minha popularidade na China ainda mais, e isso é muito bom", celebrou.

O brasileiro tem muito respeito pelos chineses fora da mesa, mas, nos ginásios, quer seguir como carrasco. "É o país do tênis de mesa, eles têm uma cultura do tênis de mesa muito grande e é bom ter esse reconhecimento deles. Hoje, sinto que ainda tenho muito o que alcançar. Esse título foi o maior marco da minha carreira, mas logo depois eu já estava com vontade de fazer isso de novo, brigar com os chineses no mundial mês que vem, nas próximas Olimpíadas. Sempre acreditei que era possível, mas esse título me mostrou ainda mais isso", destacou.

O assunto Olimpíada, inclusive, foi superado. Eliminado na semifinal e derrotado na disputa pelo bronze, Calderano sabia que a carreira e a vida não acabavam ali. "Precisei me reconstruir e aceitar o que aconteceu. Sabia que esse período iria ser passageiro e que tinha que continuar fazendo meu trabalho. Sempre fui muito resiliente, não tenho medo de sofrer, de lidar com a dor da derrota. É uma coisa muito importante. Quando você se entrega e dá tudo de si é uma forma de ter coragem, porque tem que aceitar o resultado que aconteça no fim", discursou.

Na campanha vitoriosa na Copa do Mundo em Macau, Calderano desbancou o então terceiro colocado do ranking, o vice-líder e o dono do topo, tudo em sequência. Tomokazu Harimoto (JAP - 3°), Wang Chuqin (CHN - 2°) e Lin Shidong (CHN - 1°) foram as vítimas do brasileiro.

Os resultados alçaram Calderano ao terceiro lugar do ranking mundial e, de quebra, causaram rebuliço no alto escalão da Associação Chinesa de Tênis de Mesa. Então presidente da entidade, Liu Guoliang renunciou ao cargo após a Copa do Mundo e foi substituído Wang Liqin.

"Não sei exatamente se foi por causa do meu resultado, mas acho que foi interessante o que aconteceu. Liu Guoliang é o principal cara da delegação chinesa. Foi um grande jogador, o primeiro a conseguir grandes títulos importantes. Realmente, é uma notícia muito grande ver que ele está saindo, mas é muito bom ver as coisas mudando no cenário do tênis de mesa e, claro, com meu título, e espero que isso abra mais espaço", comentou Calderano.

Questionado se a conquista do título da Copa do Mundo muda a mentalidade dos chineses, Calderano não titubeia. "Se comparar com alguns anos atrás, o nível do resto do mundo está muito mais alto. Acho que agora mais atletas fazem frente aos chineses. Eles ainda são os melhores e continuarão sendo. Mas é bom vê-los sendo derrotados ou, pelo menos, desafiados. A concorrência aumentou muito. Agora, tem 10, 15 atletas. É bom para o tênis de mesa", analisa.

Embora não meça esforços em treinamentos e em competições, Calderano está em busca de equilíbrio. Há o desejo de melhorar a qualidade de vida, ter mais tempo com pessoas amadas após 11 anos longe, morando na pequena cidade de Ochsenhausen, na Alemanha. "A minha prioridade continua sendo o tênis de mesa. Mas acho importante fazer com que esses campeonatos não sejam tão duros. A ideia é passar mais tempo no Brasil entre competições, com pessoas que eu gosto, ou levá-las comigo. São mudanças pequenas, nada muito radical, mas acho importante estar rodeado das pessoas que me fazem feliz", explica.

O novo campeão do tênis de mesa faz mudanças impactantes: está se despedindo do clube Ochsenhausen e não trabalhará mais com os treinadores franceses Michel Blondel e Jean-René Mounie. No Mundial, ele terá Thiago Monteiro, técnico da Seleção, como voz da consciência de 17 a 25 de maio, em Doha, no Catar.

Turnê chega ao Brasil
Calderano está sempre rodando o mundo para a disputa de torneios internacionais, principalmente na Ásia. Porém, pelo menos uma vez ao ano, tem disputado torneios no Brasil. Em 2025, será a grande atração do WTT Star Contender de Foz do Iguaçu (PR), de 29 julho a 3 de agosto.

"Com certeza, vou participar dessa competição e espero que a torcida brasileira compareça em peso. Eu sempre gosto muito de jogar na América Latina em geral, sempre sou muito bem recebido, mas claro, especialmente no Brasil. Eu sempre tenho um carinho muito grande da torcida brasileira e eu acho que isso tem tudo para crescer ainda mais depois desse título, acho que isso vai fazer muito bem para o tênis de mesa brasileiro. Espero que muita gente venha acompanhar essa competição", vibra, em resposta ao Correio.

Tags: olimpiadas futuro mudanças repercussao demissao inedito calderano hugo brasileiro brasil mundo do copa mesa de tenis