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OLÍMPIADAS 2024

Boxeadora Imane Khelif não é trans; entenda reprovação em teste de gênero

Vitória da argelina sobre a italiana Angela Carini nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 causou polêmica nos veículos de comunicação e nas redes sociais

postado em 02/08/2024 11:34 / atualizado em 02/08/2024 11:36

<i>(Foto: Foto: MOHD RASFAN / AFP)</i>

 
A vitória da boxeadora argelina Imane Khelif sobre a italiana Angela Carini nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 tomou os veículos de comunicação e as redes sociais desde que aconteceu, nesta quinta-feira (1º), mas não por causa do desempenho da atleta. 

Ao invés disso, o que chamou a atenção foi o fato de que Khelif é uma das duas boxeadoras presentes nesta edição das Olimpíadas que foram reprovadas no teste de elegibilidade de gênero em 2023 devido aos altos níveis de testosterona, o que gerou acusações de que ela seria uma mulher trans e questionamentos sobre a justiça da disputa.

No combate, Angela Carini jogou a toalha após apenas 46 segundos, indo em direção ao canto do ringue para se retirar após receber uma forte pancada no rosto. Em seguida, o juiz declarou Khelif a vencedora da luta dos meio-médios das oitavas de final (entre 63,5 e 66,6 kg), enquanto a italiana caiu de joelhos aos prantos.

A cena dramática provocou fortes reações de personalidades como Javier Milei, Giorgia Meloni, Donald Trump e Elon Musk. Muitas das informações compartilhadas sobre o assunto são, no entanto, falsas. 

Ao contrário do que vem sendo divulgado, Imane Khelif não é uma mulher trans, e sim hiperandrógina, como são chamadas mulheres que apresentam níveis naturais elevados de testosterona. Além dela, a boxeadora a taiwanesa Yu Ting Lin, segunda atleta presente em Paris que não foi aprovada no teste de elegibilidade de gênero, também apresenta a condição.

Há três anos, ambas participaram das Olimpíadas de Tóquio, mas no ano passado, por decisão da Federação Internacional de Boxe (IBF), foram desclassificadas do Mundial por não terem passado nos testes.

Segundo o Comitê Olímpico Argelino (COA), Khelif foi vítima de "mentiras" e "ataques antiéticos". "Como nas competições olímpicas anteriores de boxe, o sexo e a idade dos atletas são baseados em seus passaportes", escreveu em comunicado divulgado à noite, criticando os "ataques" contra as duas boxeadoras e a "decisão arbitrária" da IBF em 2023.

O COI, que assumiu a organização do boxe olímpico por falta de transparência da IBF, já havia garantido que todos as boxeadoras "cumprem as regras de elegibilidade da competição".

"O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres", disse seu porta-voz, Mark Adam.

Khelif, que recebeu forte apoio das autoridades de seu país, comemorou a "rápida vitória" e disse que continua "focada no objetivo de uma medalha olímpica".

Estes casos, que são excepcionais em competições de alto nível, levaram as autoridades a estabelecer regras específicas, que devem encontrar equilíbrios complexos entre ciência, equidade e direitos.

A atleta sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800m, recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos depois de ter sido privada de competir durante vários anos porque se recusou a tomar medicamentos para reduzir o seu nível de testosterona.

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