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Olimpíadas 2024: A história de Caio Bonfim, que ganhou prata inédita na marcha atlética

Talento lapidado em Sobradinho conquistou medalha de prata na marcha atlética nesta quinta-feira (1º/8)

postado em 01/08/2024 09:11

<i>(Foto: Alexandre Loureiro/COB)</i>

Envolto de uma bandeira do Brasil, Caio Bonfim entra na zona mista aos pés da Torre Eiffel e diz aos jornalistas do país: “Achei que vocês não vinham”. A declaração era de quem há pouco conquistava a medalha prata nos 20km da marcha atlética, a primeira dele e do país na modalidade. Estava ansioso para falar e compartilhar o feito em alto e bom português.

"Chegamos aqui para o trabalho de uma vida. Não sei dizer o que significa isso tudo. Não estou acostumado a ouvir ‘medalhista olímpico’. Sempre foi um sonho. Sou de Brasília, cresci com Joaquim Cruz. Hoje, tenho uma medalha igual a dele para levar para casa — Cruz foi segundo dos 800m em Seul-1988 e ouro em Los Angeles-1984. É um momento muito especial, que representa todos esses anos, não só o ciclo olímpico”, discursa.

Caio Bonfim cruzou a linha de chegada dos 20km da marcha com a marca de 1h19min09s. Ficou atrás somente do equatoriano Daniel Pintado e à frente do espanhol Alvaro Martin, dono do bronze. É um momento que não imaginava viver. “Quando passei a linha de chegada, no Rio de Janeiro, pensei se teria outra oportunidade. Tive de trabalhar para conseguir. Cheguei tão perto, mas tenho muito orgulho do meu quarto lugar, abriu muitas portas para mim. Na minha cidade, brinco que antes da Olimpíada eu era xingado quando ia marchar. Depois, o som da buzina mudou e os caras até exigiam: ‘Bora campeão, está flutuando’. Eu queria mudar isso”, conta.
 
Expoente do Clube de Atletismo Sobradinho (Caso), polo de revelação e preparação de destaques da marcha atlética no país, o atleta, assim como tantos no país, quase construiu história em outro esporte: o futebol. Aos 10 anos, treinava nas categorias de base do Brasiliense. Com 16, seguindo os passos dos pais, intensificou a paixão pela marcha atlética e incorporou o objetivo de popularizar o esporte no país. Logo acumulou resultados expressivos. O próximo, inclusive, está agendado.
 
"Acredito que estou mais maduro esportivamente, pelos bons resultados, pelas experiências feitas, mesmo das outras Olimpíadas, de alguns ciclos. Isso é legal, porque dá confiança para chegar na melhor forma possível", garante. Os resultados recentes, como os bronzes no Mundial de Atletismo, em 2023, e no Circuito Mundial de Marcha, com direito a recorde brasileiro, ampliam o desejo de sucesso. No Sul-Americano, em clima parecido com o de Paris, foi ouro. "Esse ciclo foi muito importante, tive grandes resultados. Espero estar evoluindo, crescendo, pensando a longo prazo e chegando nessa Olimpíada, graças a Deus, com esses feitos, que nos dão confiança", pontua.

Na França, o brasiliense terá outros trunfos. Um deles vem do coração: a família. Caio é acompanhado nos treinos pelo pai, João Sena, treinador de marcha há mais de 30 anos, e a mãe, Gianetti Sena, ex-atleta da modalidade. Em Paris-2024, correrá por eles. "Ser treinado pelos meus pais é um privilégio. Eles trabalham muito para me ajudar e eu estou ali na pista os representando. Eles têm um projeto. São capacitados, são bons. Confio no trabalho. Então, isso me dá muita segurança e, com esse pensamento, nós vamos sempre para essas grandes competições acreditando nesse trabalho em família", ressalta.

A preparação técnica teve um cuidado especial: um camping na altitude de Bogotá, na Colômbia, para ampliar a resistência. "É importante para prova de longa distância. Não é um desafio, na verdade, mas é o lugar onde você vai evoluir o seu corpo", explica. Agora, a missão é romper novas barreiras e, quem sabe, voltar para casa com uma medalha histórica. Depois, pensar no futuro para, quem sabe, lutar por uma quinta edição de Jogos na carreira. "Eu estou focado, pensando bastante nessa Olimpíada, mas acredito que eu continuarei com o mesmo intuito, com a mesma vontade para o próximo ciclo", prospecta.

Em 2016, Caio Bonfim questionou a maneira como o esporte era visto pelas autoridades ao dizer que, sem resultados, alguns atletas eram praticamente invisíveis. Oito anos depois, a referência da marcha percebe mudanças, mas não suficientes para colocarem o Brasil na cola de potências. "Era um ano importante, com uma Olimpíada no nosso país, quando a gente discutia muito sobre essa cultura esportiva. Claro que a gente evoluiu de lá para cá, talvez não na velocidade que gostaríamos. A marcha atlética sempre foi um esporte de pouca visibilidade, e essa era a dificuldade. Posso falar que o atletismo ainda sobrevive com os programas e governos, que dão passagem aérea e recursos."

O cenário leva Caio a pedir atenção aos futuros competidores. "Tem algumas coisas frágeis, principalmente para o atleta que está na base. É um assunto que poderíamos melhorar bastante e, claro, tentando com bons resultados da marcha atlética, que não são só meus, para abrirmos portas para que a próxima geração tenha recursos melhores do que tivemos."

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