Por Lucas Valle:

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Nas redes sociais, a notícia de seu falecimento repercutiu bastante. Na publicação do Instagram no Diario de Pernambuco, apreciadores das artes marciais deixaram comentários expressando o impacto dessa grande perda.

COMEÇO DE TUDO
Nascido em 1930, em União dos Palmares, Alagoas, numa época em que o judô ainda não havia se estabelecido no Brasil, Diógenes Moraes iniciou sua trajetória nas artes marciais com o jiu-jitsu nos anos 50, por volta de 1952, sob a orientação de Geraldo Fernandes e Valzenir por um ano e do sensei Takeo Yano por seis anos, na academia localizada na Rua da Roda, no Bairro do Recife.
Ao longo dos anos, Diógenes foi crescendo e se tornando uma referência no esporte, tornando-se o fundador da Federação Pernambucana de Pugilismo, que englobava todas as artes marciais do estado, dando início a todas as federações estaduais de artes marciais em Pernambuco. Em 1969, foi um dos responsáveis por criar a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que só foi reconhecida pelo Comitê Olímpico em 1972. Além da importância nacional exercida pelo mestre, ele também foi pioneiro na Federação Pernambucana de Judô (FPJ).
Em entrevista ao canal Padial TV, no YouTube, em 2022, Diógenes Moraes explicou como se iniciou sua trajetória com o jiu-jitsu e o judô no estado de Pernambuco.
“Em 1956, passei a ensinar jiu-jitsu para as entidades militares do estado. Ensinei a parte de defesa pessoal em várias entidades militares: academia de polícia, marinha e fuzileiros navais.”, comentou Diógenes Moraes.
“Ensinei judô em colégios e universidades aqui do estado, como a Universidade Federal de Pernambuco, Colégio Nóbrega e Colégio Marista São Luís”, explicou Diógenes.

Ainda colecionando conquistas, em 2024, aos 94 anos, o Shihan Diógenes Moraes conquistou mais uma graduação no judô: foi promovido ao 9° dan, o kyudan, sinônimo de um nível de conhecimento técnico muito avançado, sendo o 10° dan o maior. A missa de sétimo dia acontecerá nesta segunda-feira (17), às 19h30, na Igreja São José dos Manguinhos, no bairro das Graças. A reportagem do Diario de Pernambuco entrou em contato com o filho do mestre Diógenes, Diógenes Moraes Júnior, que informou que "todos os admiradores, alunos e ex-alunos da família são bem-vindos"

VIDA DE ÁRBITRO
Diógenes Moraes também atuou como árbitro em grandes lutas em Pernambuco, no famoso programa líder de audiência da década de 60, TV Ringue Torre, transmitido pela TV Jornal do Commercio, que exibia grandes lutas de vale-tudo. O mestre, inclusive, era um dos organizadores do programa, mais tarde ficando conhecido como o "Dana White do Nordeste".
Arbitrou lutas de grandes personalidades das artes marciais da época, como Éder Jofre, considerado o maior boxeador peso-galo de todos os tempos e o maior boxeador da história do Brasil. O sensei também participou da arbitragem da famosa luta dos anos 60 entre o paraibano Ivan Gomes e Carlson Gracie, maior nome do vale-tudo brasileiro naquela década. A luta terminou empatada, mas o próprio Carlson afirmou que foi uma das melhores de sua carreira.

LEGADO PARA A FAMÍLIA
As artes marciais ensinam disciplina, respeito e paciência a seus lutadores. Todas essas virtudes eram características do Mestre Diógenes, que repassou seus conhecimentos para gerações e gerações de sua família.
Segundo Erivaldo Moraes, seu pai era um "formador de homens. Educador que sempre prezava pela vida das pessoas, pai amoroso, filho, marido exemplar".

O Mestre Diógenes deixou seu legado nas artes marciais para toda a sua família, incluindo seus quatro filhos, 11 netos e sete bisnetos, todos praticantes de judô, alguns já repassando os ensinamentos do patriarca. Ao todo, são sete faixas-pretas e 25 dans, entre Diógenes (9° dan) e seus três filhos, Diógenes Moraes Júnior (7° dan), Carlson Moraes (6° dan) e Erivaldo Moraes (3° dan). A única filha do mestre, Claudia Moraes, também já praticou a arte marcial na infância e hoje segue admirando o legado do pai.
Os ensinamentos aprendidos com o Shi-han Diógenes ainda são repassados por toda a família em diversos centros de treinamento no Recife. São ao todo sete, vinculados a algum membro da família, seja como proprietário ou ministrando as aulas. São eles: Academia Diógenes Moraes, Academia Diógenes Moraes Júnior, Academia Carlson Moraes, Centro Escolar Carochinha, Colégio Arte de Crescer, Clube Alemão e Instituto Erivaldo Moraes.

SANTA CRUZ
Diógenes era torcedor de coração da Cobra Coral, sendo um dos sócios beneméritos do clube. O mestre foi responsável pelo departamento de judô do Santa Cruz de 1968 a 1974, quando seu filho, Diógenes Moraes Júnior, assumiu e permaneceu até 2019. Com o judô comandado por Diógenes Júnior no time tricolor, seus alunos conquistaram diversos títulos, como campeonatos estaduais, regionais, brasileiros, pan-americanos e ibero-americanos, com destaque para seus próprios filhos, Diógenes Moraes Neto e Diogo Moraes. O Santa Cruz, por sua vez, prestou uma nota em homenagem ao mestre. “Lamentamos profundamente o falecimento de Diógenes Moraes, ícone do judô em Pernambuco e no Brasil. Entre 1969 e 1974, ele esteve à frente do departamento de judô do Time do Povo, deixando um legado de dedicação ao esporte. Nossos sentimentos aos familiares e amigos”, publicou o clube pernambucano em suas redes sociais.

HOMENAGENS
Não à toa, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e a Liga Pernambucana de Judô (LPJ) também prestaram reverência ao mestre.
Liga Pernambucana de Judô (LPJ)
"É com imenso pesar que a Liga Pernambucana de Judô comunica o falecimento do Shihan Diógenes de Moraes, um dos grandes pioneiros do judô em nosso estado e uma figura de extrema importância no cenário nacional. Sua dedicação inabalável à nossa arte marcial moldou gerações de judocas, fortalecendo o judô pernambucano e brasileiro com seu conhecimento, disciplina e amor pelo esporte.
Shihan Diógenes foi muito mais do que um mestre nos tatames. Ele foi um guia, um exemplo de perseverança e um verdadeiro embaixador do judô, sempre comprometido com a formação de atletas e com a difusão dos valores do nosso esporte. Sua influência ultrapassou fronteiras e continuará viva em cada judoca que aprendeu com seus ensinamentos e em cada dojo onde sua história ecoa.
Hoje, o judô pernambucano e nacional se despede de um grande nome, mas seu legado permanecerá imortal. Nossos mais sinceros sentimentos aos familiares, amigos e a toda comunidade do judô. Que possamos honrar sua memória seguindo seus ensinamentos e mantendo viva a essência do judô".
Confederação Brasileira de Judô (CBJ)
"Lamentamos o falecimento do Sensei Diógenes Moraes, grande nome do judô pernambucano e um dos fundadores da Federação Pernambucana de Judô. Sensei Diógenes tinha 95 anos e foi referência no pugilismo pernambucano e nacional, também sendo um dos pioneiros do judô em Pernambuco, participando na formação de atletas e professores e promovendo os valores do Caminho Suave.
A CBJ presta condolências e se solidariza aos familiares e amigos do Sensei Diógenes neste momento de luto. Que ele possa descansar em paz."
EMOÇÃO
Durante a produção dessa reportagem, percebemos uma enxurrada de comentarios - únicos e emocionados - sobre a passagem do mestre. Muitos dedidacaram tempo para escrever sobre o legado do professor, mostrando a grandiosidade do mestre Diógenes Moraes, que marcou não apenas um estado, mas toda uma geração do nosso país.