Aproveitando o feriado, me deparei com uma rica entrevista do programa Sports Market Makers com Marcos Mota, especialista em direito esportivo e com vasto conhecimento sobre SAF. A conversa trouxe à tona pontos fundamentais sobre essa lei e o modelo de gestão que os clubes brasileiros devem adotar para navegar essa nova realidade. “99,9% dos clubes brasileiros não entendem por que querem se tornar uma Sociedade Anônima”, aponta Mota, em uma crítica incisiva. A perspectiva de que SAF deve ser um meio e não um fim é crucial. Ele argumenta que alguns clubes precisam de um financiador, que é diferente de um investidor. O papel do investidor vai além da simples injeção de capital. Este quer controle estratégico sobre o clube, a fim de reverter a má imagem do “produto”, que se encontra em uma “prateleira ruim” no cenário do futebol.
É preciso destacar a frustração que pode surgir se os torcedores não entenderem que os clubes que tanto amam passarão a ter um dono. Essa mudança na estrutura de propriedade pode causar temor e resistência, mas é inevitável à medida que os clubes buscam sustentabilidade financeira e competitividade. A mudança deve ser realizada com cautela, levando em consideração a identidade do clube, sua base de torcedores e as aspirações de longo prazo. O futuro do futebol brasileiro depende de uma gestão profissionalizada e de uma estrutura que não se limite apenas à busca por resultados imediatos, mas que promova um legado para as próximas gerações.
Atratividade da SAF no Brasil
Por conta da falta de regulamentação rígida e de um fair play financeiro que regule a competição, se torna atrativo a SAF no Brasil. Porém, existem riscos. Na Premier League, por exemplo, é necessário o aval de todos os proprietários para a entrada de novos investidores. No Brasil, a realidade é outra, o que abre as portas para aventureiros possam surgir, muitos sem interesse pela história do clube. Não se pode atrair este tipo de investidor.
Gestão e formação de dirigentes
Desde a implementação da lei das SAFs em 2021, a discussão sobre gestão, governança e compliance começou a ganhar espaço no debate sobre o futebol brasileiro. Porém, é preocupante que a formação de novos dirigentes não seja uma prioridade. Marcos Mota menciona o Real Madrid, que possui uma universidade dedicada à formação de líderes. Essa mentalidade precisa ser adotada também pelos nossos clubes, repensando no processo de sucessão de seus dirigentes e na profissionalização da gestão.
O papel das Ligas
Também é crucial que as ligas no Brasil estabeleçam consenso e comecem a se organizar de maneira mais eficaz, assim como fazem as principais ligas europeias. “A liga é um veículo de negócio que comporta interesses individuais, mas que fala pelo coletivo”, enfatiza Mato. Essa união é vital para a criação de um ambiente mais competitivo e saudável para todos os clubes.