Caso de Paulinho recebeu ampla divulgação nas redes sociais (Foto: Caio Falcão/CNC)
Na manhã desta sexta-feira (19), Paulo Mariano Neto, massagista do Náutico, teve, após 23 dias de cárcere, habeas corpus concedido pelo desembargador Evandro Magalhães Melo, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). No Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), as horas não passavam e os dias eram de solidão, angústia, medo e pesadelo - como definiu o profissional de 27 anos, pai de três filhos.
Identificado como um dos suspeitos de um assalto a ônibus realizado em 25 de dezembro de 2018, Paulo foi, há pouco menos de um mês, detido no CT Wilson Campos, no bairro do Brejo da Guabiraba, por três policiais da Polícia Civil pelo procedimento de reconhecimento fotográfico - onde um acusado de crime é identificado por mera exibição de retratos.
A história do cárcere do massagista Paulinho, como é carinhosamente alcunhado pelos colegas do CT Wilson Campos, obteve ampla divulgação de atletas e membros da comissão técnica alvirrubra. Além de jogadores, como Kieza, Bryan e Hereda, o treinador Hélio dos Anjos ajudou a levantar a #PaulinhoLivre em suas redes sociais. Nesta semana, a reportagem do Esportes DP acompanhou o drama da prisão e, após a soltura, nesta sexta-feira, conversou com Paulo sobre os episódios que antecederam a detenção e os dias de ‘pesadelo’ no Cotel.
“Após ser detido, fiquei três dias sem saber de nada, sem ter notícias nem falar com minha esposa, meus pais, meus filhos. Três dias, sem saber de nada. Com a mesma roupa que fui. Quando cheguei lá, o rapaz rasgou minha camisa, fiquei só de calção e sandália. Fiquei três dias com o mesmo calção. Só Deus sabe o que passei ali dentro. Depois que eu subi para o pavilhão, consegui falar com a doutora Kelly, que foi uma pessoa que Deus colocou na minha vida para cuidar e me ajudar muito. Estou bem, feliz por estar com minha esposa, meus filhos e meus pais. Só tenho a agradecer. Foram 23 dias de pesadelo na minha vida”, contou.
'NÃO DESEJO NEM A PESSOA QUE COMETEU O CRIME'
Paulo foi preso num dia ordinário, durante o seu expediente no CT Wilson Campos. Como o massagista conta na entrevista, três policiais da Polícia Civil, realizaram a detenção a partir do método de reconhecimento fotográfico. Paulinho era suspeito de ter cometido, em dezembro de 2018, um assalto no ônibus da linha Xambá/Joana Bezerra, por volta das 22h.
Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, três homens anunciaram o assalto junto a um adolescente, portando armas de fogo e ameaçando passageiros e funcionários do coletivo. Celulares, bens materiais e dinheiro foram levados. Detido no último dia 24, o massagista contou o sentimento de estar enclausurado, com sua liberdade impedida pelo estado e a angústia da injustiça - algo que não deseja nem a quem, de fato, cometeu o crime.
“Foi um período muito, muito, muito difícil. É uma situação que desejo para ninguém, nem a pessoa que cometeu o crime. Porque é muito sofrimento. É muito sofrimento. Tem uma tal de cela de espera que é horrível. São mais de 120 presos em uma cadeia esperando três, quatro, cinco dias para subir ao pavilhão. Foi muito difícil, muito difícil mesmo. E eu estava me vendo ali: ‘caramba, que situação complicada!’. Porque a partir do momento que você passa no portão do Cotel, para todas as pessoas você é bandido, fez alguma coisa de errado. Não há presunção de inocência: a partir do momento que está lá, todos são bandidos”, contou o massagista.