Esportes DP

DIA DAS MULHERES

Entre rosas e lutas: a escolha pelo futebol também no Dia das Mulheres

Jogadeiras de Olinda é um dos exemplos de meninas que buscam ocupar espaço num esporte ainda voltado especialmente para o público masculino

postado em 08/03/2021 08:09 / atualizado em 08/03/2021 08:29

<i>(Foto: Rafael Dourado/Futebol Afiliados)</i>
Foi no ano de 1975 que o Dia Internacional da Mulher passou a ser reconhecido pela Organização das Nações Unidas, a ONU. De lá para cá, são 46 anos de compromisso com as protagonistas que se refazem ao longo da história. Elas são muitas, e se multiplicam a cada oito de março. Sempre estiveram ali, mas nem sempre foram notadas. E buscam das mais variadas formas transformar em prática aquela teoria de fazer e estar onde quiser, apesar dos frequentes obstáculos. O futebol, paixão mundial, também serve de palco para isso hoje em dia.

Enquanto algumas comemoram e recebem rosas, outras preferem ignorar a celebração da data e reforçar a sua luta por direitos, como num dia qualquer. Mas há também as que escolhem formar times e jogar bola. E com esse misto de possibilidades, cada uma delas ocupa o principal lugar dentro de uma mulher: seu protagonismo. 

Histórias desse último exemplo podem ser vistas no bairro de Rio Doce, em Olinda, através das Jogadeiras, um time formado por 20 meninas que têm idades variando entre 12 e 17 anos e são integradas à ONG Pazear. Lá, elas vivem um retrato social com a chuteira nos pés, buscando passar por cima de preconceitos e dificuldades.

A jogadora Gabriely do Vale, de 16 anos, comentou que foi através desse projeto que se descobriu com talento para o futebol. E com isso, mexeu na zona de conforto de alguns meninos da equipe.

“Eu entrei no projeto desde o início, e decidi jogar bola quando o projeto começou a trabalhar com o futebol. Foi um desafio, porque os meninos não estavam acostumados a ver a gente jogando”, comentou.

E no mesmo lugar onde fez da bola uma amiga, também sofreu com a escolha.

“Já sofri com os próprios meninos do projeto, porque eles sempre falavam que futebol não é para menina. Uma vez no treino, eu fui bater lateral, e escutei um menino do meu próprio  time falar: ‘Não deixa ela bater, ela é fraca!’. Fiquei tão chateada que saí do jogo chorando. Na mesma hora os tios e as tias pararam o treino e falaram sobre o ocorrido. Desde  esse dia, levei isso para dentro do campo e pra vida”, relembrou Gabriely.
 
<i>(Foto: Rafael Dourado/Futebol Afiliados)</i>
 

Situação parecida também foi relatada por sua companheira de time, Letícia Santana, de 15 anos. Ela salientou ainda que esse preconceito é um mal constante, e que por pouco não a fez parar de se dedicar de vez às atividades, interrompendo um sonho.

“Já sofri muito preconceito. Ainda recebo. Já pensei muito em desistir da carreira do futebol, pois não é fácil ouvir que o futebol só é para meninos. E garotas, não? Como isso pode tá acontecendo?”, questionou a garota.

FUTEBOL, UMA LÍNGUA QUE TODO MUNDO FALA

Uma das quatro mulheres que dirige a Pazear, ONG que acolhe as Jogadeiras, é Karina Souza. Resgatando o início do sonho, ela confessou que o futebol não estava nos planos iniciais do projeto, mas por ser um assunto de interesse geral, foi a solução que encontrou para abraçar a maior quantidade possível de jovens.

“Nós começamos sem absolutamente nada, sem a pretensão até de ser ONG. A gente forrou umas cangas no chão, chamou os meninos para ouvir violão com uns amigos, fizemos pipoca e trouxemos guaraná. E eles receberam de forma tão mágica, que não conseguimos mais parar. Percebemos que quando tinha futebol, era uma linguagem universal, todo mundo se envolvia”, relembrou.

Mas só a vontade, ainda que grande, de fazer acontecer não era suficiente para alcançar o objetivo de mudar algumas vidas da comunidade. Foi aí que alguns estudos aconteceram para que, então, o espaço tivesse o início do sonho concretizado.

“Chegou um momento em que fomos estudar no Porto Social, passamos dois anos lá estudando sobre o terceiro setor para entender qual a melhor forma da gente trabalhar, pra causar um impacto na vida das crianças, e não ser só eventos. Aí iniciamos a primeira escolinha de futebol da comunidade”, comemorou.

Depois de pronta, a escolinha passou a receber os jovens de Rio Doce, mas sem nenhuma divisão. Meninos e meninas entravam juntos em campo, mas a questão não estava resolvida. Enquanto um lado se distraía com a bola, o outro precisava mostrar que merecia estar ali. Foi quando nasceu as Jogadeiras.

“No meio desse processo, as meninas jogavam em turma mista, junto com os meninos, só que percebemos que a gente precisava fazer mais por elas. Queríamos criar um espaço seguro para que elas não tivessem que estar o tempo todo provando que merecem estar ali, mas que chegassem só para brincar, para se divertir mesmo, e poder jogar a bola delas em paz”, disse.

Ainda em processo, Karina também explicou a importância desse elo criado hoje em dia, que sobressai o campo, e as permite estar em qualquer lugar.

“A gente agora está fazendo esse trabalho específico com elas, para que a gente possa empoderar e conversar sobre essas problemáticas que envolvem o nosso mundo e como é difícil ser mulher. E vai ser muito mais que futebol, vai trazer nossa vivência pessoal para elas; se fazer referência para que saibam que podem ser o que quiserem”, projetou.

Tags: entre rosas e lutas oito de março dia das mulheres rio doce feminino futebol escolha 2021 futebol preconceito pazear olinda jogadeiras