Esportes DP

NÁUTICO

Candidatos à presidência do Náutico: Bruno Becker enxerga problema estrutural no clube

Concorrendo pela chapa Náutico Sustentável, advogado vê que problemas nas decisões do futebol não são por causa das pessoas

postado em 30/11/2021 08:00 / atualizado em 30/11/2021 08:29

<i>(Foto: Náutico Sustentável/Divulgação)</i>
Na segunda entrevista da série com os três candidatos à presidência do Náutico, o Esportes DP bateu um papo com o advogado Bruno Becker. Ele é o líder da chapa Náutico Sustentável, e também tem como um dos nortes da sua campanha a profissionalização da gestão do futebol do clube alvirrubro. Outro tema muito citado por Bruno é a redução do passivo trabalhista.

O candidato fazia parte da atual gestão até o final de outubro, entretanto se desligou do Timbu após divergências de ideias com alguns dirigentes. Bruno acredita que o problema do Náutico é estrutural, e não incompetência das pessoas que gerem o clube no momento. Uma novidade que o postulante traz é o nome de Ítalo Braga para ser o diretor de futebol do Alvirrubro. Confira abaixo a entrevista: 

Quem é Bruno Becker?
 
Sempre fui torcedor de arquibancada. 2016 ingressei no clube como conselheiro. No primeiro ano, eu mais escutei do que falei. Um ano de muito aprendizado. Em 2017, permaneci no conselho e participei da comissão eleitoral. Logo depois, houve o convite para eu integrar o departamento jurídico do executivo do clube. Entrei em 2018 como diretor jurídico, e em 2020, passei a ser o vice-presidente jurídico. Fiquei até o final de outubro de 2021, quando decidi sair da gestão. Na minha vida pessoal, sou um advogado atuante. Estou à disposição do clube. Sempre tive minhas ideias, e essa eleição é uma oportunidade.

Como será a gestão de futebol?
 
O problema do futebol do Náutico não são as pessoas que estão hoje. O problema da atual gestão é conceitual. Todo o staff é competente. O departamento de futebol do clube foi gerido nos últimos anos de uma forma muito centralizada no vice-presidente de futebol. Quase todas as decisões passavam por ele. Ele que iniciava uma negociação, decidia, e apenas comunicava. No ambiente em que os profissionais que entendem na matéria não podem agir com autonomia, automaticamente, esses profissionais não desenvolvem o potencial que tem. Primeiramente, o processo decisório do Náutico tem que mudar. Eu penso que a espinha dorsal deve permanecer. O diretor não-remunerado tem que supervisionar o trabalho dos profissionais remunerados, que entendem da matéria. Os ajustes precisam ser feitos de acordo com o que foi traçado no início do ano. Cabe ao diretor abnegado cobrar. Esse é o principal ponto para mim. A novidade será o diretor de futebol, que será Ítalo Braga. Ele foi diretor de esportes olímpicos, passou pela diretoria de patrimônio, já foi diretor de base e diretor de futebol no ano passado. Ele vem para supervisionar o departamento de futebol e fazer o elo entre o departamento e a presidência.

Elenco para 2022 
 
Nosso treinador tem contrato até o final de 2022. Independente disso, não vejo motivos para a gente não manter Hélio, Guilherme, Marcelo e o executivo de futebol, Ari. Eles já mostraram que têm capacidade. O que tem que ser feito é deixar eles trabalharem com autonomia, respeitando um projeto, um conceito maior do clube. Eles precisam tomar decisões baseados em critérios técnicos, não em forma de gratidão ou de achismo de um diretor. Ficou claro que o planejamento do elenco esse ano foi mal feito. Talvez por uma falsa impressão que o título pernambucano deu. Quando a gente foi para um calendário com uma intensidade maior de jogos, na Série B, o elenco mostrou carências. Isso precisa ser corrigido, até porque ano que vem temos o calendário cheio. A gente vem fazendo o mapeamento dos jogadores que têm contrato. O tempo entre assumir e o começo do estadual é muito pequeno. Não começamos as “negociações” por questões éticas, já que não estamos no clube. Hoje, permanece o desejo da atual gestão. O que cabe a gente fazer é mapear, e isso a gente vem fazendo.

Como será o processo de contratação?
 
Eu penso que não pode ser centralizada em uma pessoa. O processo de contratação é mais complexo do que a gente imagina. São inúmeras variáveis. Questão técnica, competitividade, financeira, polivalência. Não adianta a gente trazer um jogador de nível técnico alto, mas que vem de um ano sem jogar. Ele não vai aguentar um ritmo mais intenso. Quem vai fazer essa avaliação são os profissionais capacitados para isso. A fisiologia vai opinar, o executivo de futebol, o treinador, a análise de desempenho, a preparação física, todos. Essas informações vão ser consideradas para a tomada de decisão. Depois vai para o diretor de futebol e para o presidente do clube uma espécie de relatório. Com isso, a tomada de decisão é mais assertiva. 

Como será feito a integração da base com o profissional?
 
Base tem que ser tratada como um investimento. Tem que ter um investimento estrutural, um investimento no cidadão. São jovens em formação, como atleta e como pessoa. O clube precisa dar esse suporte, através de psicóloga específica para base. Além disso, é preciso realizar melhorias na estrutura física da base. Alojamento, refeitório. O Náutico precisa disso, inclusive, para ter novamente o selo de clube-formador. É preciso integrar as equipes de base e o profissional em um conceito do clube. Por isso, é preciso de um coordenador técnico de base, que nós vamos implementar. Não adianta o atleta ser do sub-15 e se preparar de acordo com o time, mas quando subir para o sub-17 ser outro modelo de jogo, outra forma de preparação física. O conceito dos treinadores não pode ser diferente. Isso não é bom para o atleta. Primeiro, precisamos unificar esse processo. Assim, as mudanças de categorias não serão feitas de forma descontinuada. A gente, através do coordenador técnico, precisa traçar esse conceito. Com isso, vamos conseguir formar melhor o atleta, vender melhor, e aqueles que não forem vendidos vão se adaptar muito mais rápido ao profissional, assim, sendo aproveitado mais no clube.

Quais são os projetos para o centro de treinamento?
 
O nome da chapa “Náutico Sustentável” não é por acaso. O CT precisa ser autossustentável. Temos uma área em torno de 42 hectares, é uma imensidão. A gente não utiliza nem quatro hectares. Precisamos tratar o local como um complexo. Iremos ter uma parte para o CT propriamente dito, uma outra área destinada à ações de cunho social, tanto para o sócio e quanto para ações sociais da comunidade. A partir do momento que a gente desenvolve esse tipo de projeto, o clube consegue captar recursos públicos para isso. Uma terceira área, na margem da BR, é a mais valorizada e a gente não usa. Ela precisa ser arrendada. Vendida, nunca. Não vamos nos desfazer de patrimônio. Mas ela precisa ser arrendada para empresas a um preço de mercado, fazendo com que esse valor seja destinado para a manutenção do CT.


Como será a estrutura do marketing e das campanhas de sócio?
 
O principal é estruturar o departamento de marketing. Não é simplesmente colocar um profissional e remunerar. Precisamos criar uma equipe robusta de profissionais da área de marketing esportivo. Não adianta eu colocar profissionais de marketing de clínicas veterinárias ou de postos de gasolina. O clube está há 15, 20 anos fazendo o mesmo tipo de campanha de sócio, que é aquela do “pague 12 meses e ganhe um desconto”, “pague antecipado e ganhe um desconto x no ingresso”. No começo ela tem um pico de aumento do quadro de sócios, mas meses depois esse número decresce absurdamente. A gente precisa pensar fora da caixa. Poderíamos fazer algo até simples. O sócio que pagou as 12 mensalidades poderia participar de sorteios mensais para poder sair da concentração no ônibus do clube até o estádio. O sócio poderia viajar com a delegação para um jogo fora de casa. Uma campanha para o sócio ser o treinador por um dia em um “rachão”. O clube precisa escutar o sócio. Nunca vi nesses últimos anos uma pesquisa de opinião que escutasse os sócios. O clube hoje não sabe o perfil do sócio. Não sabendo, você não sabe qual é a melhor política a ser aplicada. É preciso entender o sócio e fazer campanhas de maneira mais assertiva.

Quais os planos para as dívidas e passivo?
 
Sem dúvida a principal política é dar um choque administrativo de gestão. Trazer para o clube as práticas básicas, no início, de toda empresa. Estabelecer um setor de controle interno, de governança corporativa, de ética. Estruturar todos os departamentos tal qual nas empresas. Dentro disso, se enquadra o jurídico do clube. Minha ideia é ampliar o jurídico e deixar de gerenciar passivo. Ao longo dos últimos 15, 20 anos, o clube vem gerindo passivo. É diferente de reduzir passivo. Hoje, o passivo trabalhista está sendo gerenciado, o que não significa que ele está diminuindo. A ideia é diminuir. A lei da Sociedade Anônima do Futebol, que passou a valer recentemente, é extremamente moderna, que permite que o clube faça um plano de pagamento, que pode ser realizado em até 10 anos, que possibilita que o clube diminua o valor junto ao credor. Isso é feito em comum acordo com os credores. Dessa forma, passa uma segurança de que o credor irá receber. Isso vai para homologação judicial, então precisa ser cumprido. Se não realizar, o gestor também pode ser punido. Já tem clube fazendo isso. O passivo hoje é em torno de R$ 50 milhões. A gente consegue, facilmente, apresentar um plano de pagamento reduzindo esse passivo para R$ 30 milhões. Se colocar isso em 10 anos, vou pagar menos de R$ 300 mil por mês, o que é menos do que a gente deixa na Justiça hoje. Só que o mecanismo de hoje é diferente, aí não reduz o passivo. 

Por que a náutico sustentável merece o voto do sócio?
 
Porque tenho experiência de clube. Estive na gestão nos últimos quatro anos. Sei do que o clube precisa melhorar, quais caminhos precisa trilhar. Sei do que foi feito de bom e de ruim, o que precisa ser corrigido e o que precisa ser melhorado. Sou uma pessoa do diálogo. Não tenho aresta com ninguém do clube. Isso é importante para a instituição. Esses atributos, junto com as pessoas que estão comigo na chapa, temos maturidade e experiência suficiente para fazer uma gestão firme, mas uma gestão moderna.
 
VEJA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA 
 
 

Tags: bruno becker ivan pinto da rocha nautico eleicao candidato